quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Os ombros suportam o mundo




Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.

Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.

Carlos Drummond de Andrade

Explosão




Foi assim, como um "BOOOOOOOOOMMM", que a realidade veio à tona. Chegou e nem pediu licença, instalou-se e entristeceu tudo o que parecia feliz.
O fim do ano chegou, e com ele a verdade, os sonhos não realizados, os amores não retribuídos, as amizades não compreendidas. A tristeza passageira, estacionou, e fez com que os sonhos perdessem o sentido.
O "BOOOM" que veio de repente, deixou a pergunta: e aí, quando é que vai valer a pena? Quando é que meus pensamentos vão se acalmar e encontrar a serenidade das águas correntes? Quando?